O livro laranja

Voltei ao livro laranja em busca de paz.
Toda vez que meu coração dói eu o consulto.
Ele possui algumas orelhas e umas anotações que hoje já não sei mais o que significam.
A contra-capa está suja com uma camada fina de tinta para que eu não pudesse mais ler o que estava escrito nela, naquelas letras miúdas.
Tem tantas palavras ali que me desdobram.
Poemas de felicidade, de amor, de tristeza e desolação.
Alguns esperançosos e outros num suspiro final.
O livro da capa laranja com um bigode me traz todo tipo de sensação.
Já fui paquerada por segurá-lo no metrô e já chorei o abraçando e desejando que fossem alguém ali, até mesmo já fiquei orgulhosa de ter entendido e interpretado tantos versos que me contam mais histórias que meia dúzia de pessoas num bar.
Hoje ele funciona como uma bíblia para mim.
Lá eu busco palavras felizes para dias tristes. Esperanças para dias de últimos suspiros.
Leio umas dez vezes até conseguir interpretar cinco linhas.
Talvez hoje eu leia o livro laranja com dor.
Mas ele me ensinou uma coisa muito importante…
Um dia
um mês
um ano

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