sozinha

passei longas horas observando o céu. entristecia-me ver os aviões indo para longe, cruzando as nuvens vermelhas em direção ao sol. aviões sempre tem para onde voltar, mas nunca voam junto de outros aviões. quão solitário deve ser um avião.

várias vezes ouvi de outros que tenho medo de me ferir, de lidar com o acaso com as perdas e com a solidão. hoje entendo que isso foi o jeito que todos encontraram para me dizer que tenho medo de viver.

tenho medo do sofrimento e, com isso, acabo por ter medo da vida.

e das certezas sobre os encontros tiro que aprendi – quase que a força, a aceitar as partidas. também entendi que não sei lidar com incertezas, com falta de respostas e de garantias.

e se pudesse colocar todas estas coisas em uma caixa, e carregá-la comigo para todo o sempre, não me importaria com o peso. sei que com ela não seria pega de surpresa pelas rasteiras que a vida insiste em me dar e que isso também me afasta de todas as coisas mais lindas que esse vida pode me oferecer. sei disso.

eu ainda não aprendi a viver.

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